domingo, 7 de fevereiro de 2016

Terapia Hormonal

Pessoas como eu e muitas outras que se sentem e vivem a mesma realidade podem chegar ao seu sonho com esse tipo de tratamento, o mesmo são um conjunto de medicamentos que no corpo simulam a produção de hormônios naturais de uma mulher. São basicamente bloqueadores da testosterona( hormônio masculino) e um conjunto de hormônios femininos ( Estrógeno, progesterona, e por ai vai rs).
A única parte disso que eu faço é bloquear um derivado da testosterona, o DHT, usando um medicamento chamado Finasterida-1mg, para assim evitar desenvolver a calvície genética, já que meu pai tem uma bem avançada, e eu já estava desenvolvendo as famosas entradas.Imagine uma mulher sem os cabelos, seria de deprimir qualquer mulher só pensar nessa situação.
 O restante do tratamento para conseguir transicionar o meu corpo do masculino para o feminino pretendo fazer quando estiver me sentindo segura e confiante o suficiente para começar, já que os mesmos envolvem riscos, acompanhamento psicológico, exames frequentes para checar o perfil hormonal, e é uma decisão séria, afinal é o meu corpo que está em jogo, qualquer erro e eu não sei o que poderia acontecer de pior, mas cedo ou tarde essa será a minha realidade, e é a única maneira de mudar o que precisa ser mudado rs.

Tentando moldar a "casca"

Já tentei fazer de tudo com o meu corpo para ele estar mais de acordo com o que eu sou e sinto. Uma dessas coisas foi quando me matriculei na academia e focava apenas em desenvolver as pernas, deveria ser o único menino ali que nem se importava com braços fortes e tronco avantajado. Tomava suplementos, passei a comer em maior quantidade, e treinava religiosamente as minhas pernas de duas a três vezes por semana, nos  dias restantes eu treinava só por treinar os membros superiores.
Achava que essa rotina me daria as pernas femininas que eu queria tanto ter, mas não foi bem assim, fazer o que né rs, paciência e uma boa terapia hormonal podem resolver esse problema algum dia, e vou falar sobre isso em um próximo post.

Se descobrindo Trans

Não é desde sempre que eu conheço o termo transexualidade, antes eu não entendia o que era tudo isso que eu vivia e vivo até hoje. Ainda tenho a memória guardada intacta de quando eu via as meninas se desenvolvendo, e era um sonho pra mim me desenvolver da mesma forma, as vezes me pergunto o que me fazia acreditar com tanta convicção de que a natureza me daria esse presente, acreditava ser tão natural que viria com o tempo a minha tão sonhada feminilidade.
 No entanto algumas coisas não foram tão cor de rosa assim pra mim, eu me pegava constantemente apaixonado pelas meninas, e os meninos não me despertava nenhum tipo de atração, portanto eu não seria gay, o que seria isso então? eu vivia um constante conflito.
A adolescência chegou, trouxe seus espinhos mas também trouxe suas rosas. Os espinhos seriam os pelos corporais "brotando do nada", agora eu já tinha que raspar uma vez por semana o protótipo de barba que começara a aparecer, pois caso contrário eu pareceria um machinho, e o óbvio para todos acabaria também por me relembrar o fato, era o meu corpo depondo contra mim. As rosas foram finalmente poder usar roupas unissex, eu usava camisa xadrez, calça skinny feminina, porém sem detalhes como brilhos ou algo do tipo, era apenas o corte da calça que diferenciava um pouco da masculina.
Na parte da minha sexualidade tentei acreditar que eu fosse gay, e juro, queria o ser a qualquer custo, pois assim supostamente o meu conflito interior deveria acabar, afinal tudo o que eu sinto estaria justificado pelo fato de eu ser gay. Pois bem, tive relacionamentos com homens o suficiente para chegar a conclusão de que era algo que realmente não me atraia, voltei a vida que conhecia até então, o de ter pequenos namoros e relacionamentos abertos com garotas, me senti mais feliz.
Após pesquisar bastante a respeito descobri que identidade de gênero e sexualidade são duas coisas distintas, e então o meu conflito interior foi em parte aliviado, entendi finalmente que a minha identidade de gênero é feminina, e que sinto atração por mulheres, engraçado não gostar de viver como homem, e ainda não gostar de me relacionar sexualmente com eles.
 

Cross dressing

Esses são alguns momentos felizes onde me sinto a pessoa que realmente sou por dentro, e esses pequenos Oásis da minha vida começaram desde muito nova. Primeiramente já começava a ocorrer quando tinha por volta dos meus 8 anos(ainda não havia tido coragem de provar peças femininas, talvez ainda não tivesse me passado pela cabeça que poderia fazer isso, memórias vagas rs) continuando, nessa idade eu me lembro nitidamente de sair do banho, e antes de vestir minhas roupas masculinas olhar meu corpo no espelho, acreditando que ele tinha algo de feminino e se tornaria cada vez mais com o tempo( doce ilusão de criança). Por volta dos 10 anos de idade passei a vestir calcinhas da minha mãe( ela lavava no banho e deixava pendurada no suporte de toalhas para secar), e se tornou minha rotina de banho. Eu as vestia e ao sair do banho colocava de volta ao local de onde retirei, para não ser descoberta rs. Por volta dos 14 anos passei também a vestir calças e blusinhas da minha mãe e começei a deixar o cabelo crescer( fiquei um bom tempo com o cabelo em comprimento médio, e só aos 17 anos cortei por motivos sociais, leia-se emprego rs). Foi nessa idade também que passei a ter como rotina retirar os frágeis pelos corporais, frutos de uma puberdade já em andamento, e que me incomodava de forma razoavelmente constrangedora, enfim, até hoje mantenho essa rotina, que para mim é uma terapia, retirar aquilo que não me pertence rs, mas que insiste em brotar no meu corpo. Hoje em dia o meu ato de " trocar vestimentas" se resume em passar um batom antes de ir dormir, isso já é rotina, e de vez em quando usar aquelas cuecas boxers femininas, tenho algumas desses peças em meu guarda roupas, quando fui comprar a vendedora me olhou com uma cara de "?" mas não me perguntou nada a respeito rs, por agora são esses os meus relatos.

A sociedade

Não é novidade dizer que o Brasil é um país extremamente transfóbico, e em geral preconceituoso com a população LGBT. Com relação a mim não foi diferente. Nos tempos de ensino fundamental e médio eu era visto por alguns como um gay masculino afeminado, e sofria provocações dos meninos mais intolerantes que dificultavam a minha vida naquele ambiente. Tinha também algumas amizades lá dentro, Posso adiantar que não conclui o ensino médio, parei quando estava no terceiro ano, com planos agora fechar o ensino com EJA( supletivo) depois. Fora do ambiente escolar tive algumas namoradas que diziam achar "fofo o meu jeitinho".
Moro com os meus pais, tendo uma mãe que já sabe da minha transexualidade e aceita, e o pai que acha que passei por uma turbulência típica de adolescente, onde ele me via como gay, e foi como me assumi pra ele na época, e ele relutava um pouco em aceitar, mais dizia respeitar( em posts futuros vou detalhar mais isso rs), resumindo, neguei para ele ser gay depois de um tempo, afinal testei ficar com rapazes e todas as experiências foram frustrantes, principalmente na questão física, onde homens não me despertam qualquer tipo de atração. Após perceber isso em mim mesma e chegar a conclusão de que a minha atração e desejo é por mulheres, tive uma conversa com o meu pai para relatar a minha infelicidade( depois falo detalhadamente disso, pois quero nesse post focar em sociedade e em como tem sido a minha vida social).
No momento não trabalho, e estou fazendo um curso de cabeleireiro( me tornei mais um estereótipo rs, afinal muitas de nós escolhemos essa área) mas eu realmente gosto, sempre tive vontade de aprender mais nesse ramo, agora se após me formar vou trabalhar nessa área, ou vou voltar ao ensino médio finalizando com EJA, ou em como vou dar rumo a tudo isso ainda não sei, estou indo por partes.
No dia à dia quando tomo o ônibus, metro, ando na rua, faço compras, e passeios vivo tranquilamente, não passo por problemas de descriminação nesses momentos, talvez porque me visto de maneira ainda masculina, e de boca fechada consigo esconder bem meus modos femininos, modos esses que tenho desde que me conheço por gente. Sou "detectada" nos ambientes de convívio contínuo como escola, cursos, etc.. e muitas vezes as pessoas conseguem me constranger com seus comportamentos preconceituosos. Por agora é isso, depois relato mais sobre a minha vida em outros posts.

Sobre mim

Meu nome é Mariane Perazolli, sou de São Paulo e tenho 19 anos (faço 20 em março).
Nasci genéticamente do sexo masculino, mas desde muito nova tenho lembranças de me sentir uma menina. Posso dizer que sou uma mulher trans não transicionada. Apesar de ter uma identidade de gênero feminina sempre senti atração por mulheres, posso me considerar lésbica rs.
Bem, criei esse blog com o objetivo de compartilhar a minha história, sentimentos e a minha transexualidade em si.